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Mestre Almerentino (1935) 
Almerentino Macário de Souza 

Olaria São Gregório
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Peixe vazado

Compr 30cm x 20cm altura

Peças doadas em abril de 2024 ao CRAB - Centro de Referência do Artesanato Brasileiro -  Sebrae/RJ - 

Praça Tiradentes nº 67 a 71 -

Rio de Janeiro - RJ
 

  • Peixe vazado e Carneiro

Peixes (par)

Carneiro

Compr. 34cm x 23cm altura (cernelha)

O Centro de Maragogipinho fica à beira-rio, é um grande espaço cercado de olarias, uma colada à outra. Até parece uma taba indígena no encontro do rio Jaguaripe com o mar. Em volta das 104 principais olarias, circundam outras tantas, ao todo são 157, sem contar as pequenas olarias de fundo de quintal. O lugarejo conta a sua história na tradição oral, a partir de 1820, é um distrito da cidade de Aratuípe –BA, município criado em 9 de agosto de 1891, distante apenas cerca de 12 km da cidade de Nazaré, também conhecida como Nazaré das Farinhas. 

É uma localidade distante dos grandes centros, mas cheia de cultura própria e de orgulho em viver a vida do barro, num estilo que encanta para sempre o visitante. O que mais chama atenção é que os oleiros são pessoas simples, mas patrões de si mesmos. Fizeram do barro a moeda da liberdade.

As olarias são construções toscas. Sua estrutura em madeira deixa vigas à mostra e os telhados de duas águas refletem um tabuleiro de cores com os diversos tons do barro de suas telhas, como se fossem palhas tostadas pelo sol. As paredes são de varas espaçadas que deixam correr o vento e entrar a claridade. Algumas delas são cobertas de palha até próximo à cumeeira, dando o aspecto de uma imensa oca. O barro em Maragogipinho transforma-se em tudo e é de serventia para tudo, é fonte de vida e fonte de renda.

O nome da Olaria São Gregório é uma homenagem ao pai do Mestre Almerentino, o Mestre Gregório Macário de Souza, nascido na cidade de Jaguaripe e casado com Maria de Jesus Ramos. Em sua época fazia peças de porcelana e barro vidrado ou esmaltado (cerâmica revestida com uma mistura de zarcão e chumbo). 

Almerentino, quando menino, fazia seus caxixis. Diz-se que é o caxixi que faz o oleiro. Desde a mais tenra idade, 7 anos, começou a ajudar o pai a fazer fornadas para vencer as encomendas recebidas. Quando Mestre Gregório se deu conta o filho já era artista, e tinha iniciado uma linha de peças menos rústicas, trabalhada com mais arte. 

(“Os caxixis são miniaturas da louça grande, caprichosamente trabalhadas e originariamente destinadas a uma finalidade de brinquedos. Tudo pequeno, destinado ao enlevo e à alegria das crianças: moringas pratos, panelas, fruteiras, tigelas, frigideiras, cálices, quartinhas,etc.” segundo o folclorista, escritor e historiador nazareno Alexandre Lopes Bittencourt – I Congresso Nacional do Folclore - 1951).

Mestre Almerentino Macário de Souza à primeira vista parece ser do tipo calado, de compleição magra, rosto bem marcado, cerca de 1,65 m, pele da cor moreno-índio, fala devagar e firme, com a experiência de quem já deu entrevistas para muitos, ilustres ou anônimos pesquisadores, desde seus 30 anos. As mãos expressivas são alongadas e grandes, e dão a impressão de se transformar em uma ferramenta ao trabalhar no torno, açambarcando o barro e criando formas e formatos ao ritmo da roda que ronda o torno pela força das pernas do oleiro. A cadência e a velocidade fazem sua evolução à mercê do que se quer criar. Num trabalho sincronizado, braços, mãos e pernas se envolvem a um só tempo com o barro, em massa densa, bem úmida, quase molhada, que em movimento se levanta, se amolda e transmite instantâneo o pensamento do oleiro – um pote, um jarro, um prato, seja o que for. Mestre Almerentino tem uma voz calma e uma conversa sempre esperançosa de reconhecimento do seu trabalho. Basta uma pergunta para ele contar toda a história das Olarias e do surgimento de Maragogipinho. 

 

 

É uma localidade distante dos grandes centros, mas cheia de cultura própria e de orgulho em viver a vida do barro.....

 

....os telhados de duas águas refletem um tabuleiro de cores com os diversos tons do barro de suas telhas, como se fossem palhas tostadas pelo sol. 

 

O barro em Maragogipinho transforma-se em tudo e é de serventia para tudo, é fonte de vida e fonte de renda.

 A Olaria São Gregório situa-se quase à beira do rio, na via principal. Na entrada, o forno à lenha, todo construído de tijolo vermelho, com arco catenário, tendo cerca de 3 metros de altura. Lateralmente, tem dois outros fornos menores.O ambiente é tranqüilo e meio escuro, uma penumbra se comparada à alta luminosidade da terra nordestina. Não tem janelas. Claridade, só a que vem pelo vão de entrada e pelas paredes vazadas de varas espaçadas. O calor se mistura ao frio da argila amassada pelas mãos forjadas pelo trabalho duro. A arte do Mestre Almerentino é criada com peças que fogem um pouco à tradição local, por seu design mais arrojado e moderno, principalmente na linha das luminárias.

O Mestre Almerentino (1935) é a segunda geração de oleiros da família. Comanda a pequena empresa familiar com um vigor que não aparenta a idade. As peças em sua grande maioria nascem do torno, sua especialidade. Casado com Dejanira da Trindade Souza tem uma grande prole, são nove filhos. Cinco trabalham com ele na Olaria: Aldair, Sergio (vulgo Baygon), José, Almerentino Filho (vulgo Raimundo) e Aldenilson. Os demais Adnael, Sandra, Antonio e Delma seguiram outras profissões. A tradição que passou de pai para filho, está agora na terceira geração de Oleiros de Maragogipinho da linhagem Macário de Souza.

Ajudando no preparo do insumo principal, o auxiliar Ambrósio (vulgo Bugi) amassa, decanta e prepara o barro. Na confecção das diversas peças utilitárias, a “fábrica” funciona como uma linha de montagem, onde cada um faz uma parte do trabalho de uma mesma peça: a moldagem, os enfeites, o acabamento e a tintura final. As peças nascem de porções de barro na forma de cilindros maciços rolando no torno, no ritmo dos pés e no condão das mãos do oleiro. É a origem dos vasos, panelas, moringas. São moldadas também a partir de placas de barro proporcional ao tamanho da peça a ser feita, que depois tomam a forma, sejam de triângulos, retângulos, quadrados ou círculos e, por fim, os detalhes e a pintura. Depois é secar, secar e secar, para não quebrar na quentura do forno à lenha. 

Pesquisa e Texto - Israel Matos
Fotos - Américo Azzevedo

Escultor e Ceramista Mestre Almerentino (1935) 
Almerentino Macário de Souza 

 

Olaria São Gregório,
Rua Luiz Santos 34
Maragogipinho – Aratuipe - BA
CEP: 44.495-000 
Cel: (75) 8892-2449  - Aldair

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