Artes Brasileiras
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Toda boneca de Margarida tem uma história...

Uma moçoila delgada, elegante, bem vestida, com trajes próprios para um grande evento social, um vestido de festa. Diria que está preparada e trajada para um casamento suntuoso. O chapéu de abas largas compõe sua elegância cobrindo totalmente os cabelos e junto com o largo laço que envolve o longo pescoço lhe emprestam um ar que tem um quê de esnobe, sombreando sua grande timidez. Do decote ousado despontam com naturalidade os seios de menina moça, apontando ao mundo uma lânguida sensualidade para ser pouco a pouco descoberta. Não tem gestos de mãos e braços, escondidos pelo panejamento que cria a roupagem nobre, mas o movimento do corpo fala por todos os gestos, criando uma atitude de distanciamento e tristeza sem perder por um só momento sua elegância nata. 

Estas moças, belas moças que só Margarida sabe de onde vêm, são esguias, esbeltas e elegantes, como lhes convém. Admiro este trabalho pela transformação do barro pesado em leveza de gestos. Admiro esta arte que faz do barro estático moças em pleno movimento. Admiro o design perfeito qual estilista de moda, vestindo cada peça para seu próprio cenário, cobrindo de panos de barro estes corpos que declamam um poema em cada modelo, com a métrica figurada na atitude da sua escultura.

São figuras etéreas, diáfanas, sempre misteriosas. Encantam a quem vê desde a primeira olhadela. São moças casadoiras, namoradeiras, meigas, afoitas, são moças levadas, cheia de ousadia e sensualidade. Tem de tudo nestas mil mulheres que saem das mãos da artista e são todas uma só debulhadas dela mesma. São grãos de vida multiplicadas para retratar mil momentos e sentimentos, fazendo cada uma nascer de uma história. São personagens que parecem sempre dizer alguma coisa. Contam uma história que aos ouvidos do mundo podem virar fantasias, mas do pensar de Margarida nascem mais do que verdadeiras.

Texto de Israel Matos